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quinta-feira, 29 de março de 2018

Arrested development ou os Bluth como representantes do mundo real

Esta é a história de uma família rica que perdeu tudo e do filho que não teve outra escolha senão mantê-la unida.... mas não, essa não é uma história de união.       

"essa família é muito unida...." não né.

   Não é segredo para ninguém que as séries tendem a romantizar tudo; por exemplo, uma família pouco convencional tende a ir a picos de amor e ódio que retornam novamente ao amor, um ciclo de mentiras acaba por ser rompido e a verdade enfim revelada, o cara bonzinho fica com a protagonista, o esforço é recompensado sempre..... Mas cá entre nós, a frequência com que isso acontece no mundo real é relativamente baixa. Então eu estava zapeando na plataforma mais hype do momento, procurando realidade, até topar com uma série que me chamou atenção, arrested development.
 Eu esperava humor ao iniciar, eu esperava rir um pouco, então um pouco despretensiosamente apertei o play.
um gráfico explica tudo

    Cá estou eu então, com as quatros temporadas finalizadas e olhando para os Bluth - tentando descrever algo indescritível. Não precisa ser um Sherlock para perceber que os Bluth estão falidos, até porque está bem explícito na frase de abertura da série, e o que fica cada vez mais claro é o quão disfuncional, e mesmo sendo da classe A decrescente) e gente como a gente essa família é, com problemas como os nossos - porém com uma lente de aumento digna de um microscópio eletrônico e um foco que se centra em pontos negativos de cada um dos integrantes.
     Michael é o workaholic e superprotetor que resolve unir a família, filho do corrupto George Sr e da perua Lucille, pai do estudioso e nada másculo George Michael, irmão do mágico fracassado e mulherengo GOB (um outro George da família), da fútil Lindsay Funke - essa, esposa do ambíguo e ator frustrado Tobias e mãe da esperta e carente de afeto Maeby - e do infantil Buster.
um momento bem pai e filho para Michael e George Michael

     Essa seria uma série legal, com bons atores e personagens interessantes, se não tivesse se tornado esse soco no estômago, que faz rir e pensar ao mesmo tempo, tudo parece muito real, somos bombardeados por cenas em documentários, fotografias, arquivos, histórias do passado e, claro, a narração incrível de Ron Howard. O humor da série não é nada básico, aborda os temas com muita profundidade, mas o aspecto de leveza é mantido pelas piadas que fazem o contraste perfeito. Os personagens são vistos em suas piores roupagens e seriam totalmente desprezíveis, se não fossem fáceis de se identificar - seja pelas promessas de rompimento de Michael que nunca se cumprem, as artimanhas falhas de George Sr, o controladorismo de Lucille, a insistência de George Michael em uma crush que não o quer, os constantes fracassos de GOB, o relapso de Lindsay e Tobias como pais e todos os transtornos psicológicos contidos no pacote Buster.
    Em alguns momentos quis caracterizar um ou outro personagem como egoísta ou imaturo, mas todos o são, mudando a perspectiva vemos claramente como a herança genética dos Bluth se manifesta - uma hora ou outra, dependendo da motivação até o - aparentemente - certinho Michael assume o caráter hereditário, o que se acentua com o decorrer das três primeiras temporadas e eclode na quarta, que é uma espécie de revival e continuação "Netflixada".
na Califórnia é permitido shippar esse casal?

    Fora o elenco principal, com todas as suas atuações marcantes e bordões inesquecíveis, temos também um elenco secundário que não deixa a desejar, seja com a Lucille 2 que é rival da Lucille 1, a neurótica Kitty que é secretária e affair de George Sr; o próprio irmão gêmeo de George Sr (e affair de Lucille 1) o hippie da melhor idade Oscar; o advogado enrolado e de caráter duvidoso, Barry; a facilmente esquecível Ann; o filho renegado de GOB, Steve Holt; o afetado Tony Wonder,  que é um mágico rival à GOB; a advogada mentirosa Maggie Lizer (vivida pela queridíssima Julia Louis-Dreyfus, a nossa eterna Elaine); entre muitos outros nomes que endossam que essa série é séria, mas não foi feita pra ser levada a sério mesmo.
    Muito talento, muitas risadas (sem as risadas fakes ao fundo), muitas piadas de gosto duvidoso, muitas piadas de ótimo gosto, muito humor de morde e assopra, muitos muitos;  a série é uma ótima dica para quem cansou de séries idealizadas. Sejam bem-vindos ao mundo disfuncional e, assustadoramente, real de arrested development.
isso é arrasted development....

ps: fiquem ligados que esse ano ela volta.
ps2: entra nas lista das estatuestas pelas incríveis 22 indicações ao Emmy's, entre outros grandes prêmios.