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terça-feira, 10 de julho de 2018

Funny Girl ou a história da menina não tão bonita assim

Estrelando

    Eu só assisto filmes em quais eu possa me identificar com alguém, eu sei que é uma zona de conforto - mas dessa eu não ouso sair.
    Ensaio assistir Funny Girl (em português Br uma garota genial) desde sua estreia no catálogo da Netflix, nesse meio tempo ele saiu e eu me frustrei. Recorri a outros métodos e consegui, numa dessas terças-feiras de folga do mundo real, finalmente assistir. O filme é longo, o enredo não pega telespectadores de ação tão facilmente, mas sente-se bem e aproveite.

If a girl isn't pretty like a Miss Atlantic City


    Fanny Brice (Barbra Streisand) é uma garota que almeja o estrelato. Ela tem talento e não nega, modéstia não é o nosso ponto forte, a mãe é dona de um salón e a apoia irrestritamente. As amigas da Sra Brice não confiam tanto assim, afinal "Se uma garota não é tão bonita quando a Miss Atlantic City, tudo o que ela ganhará é piedade e um tapinha nas costas", Fanny e seu desvio de septo e peitinhos tamanho P não era a aposta das senhoras da vizinhança.
    Funny não duvida de si, e o quando o faz é confabulando sozinha. Ela é genial e sabe, porque tem que trabalhar o dobro das meninas bonitas para fazer sucesso nesse ramo. Precisa de alguém para dançar? "Estou aqui". Precisa de alguém para cantar? "Às ordens.". Precisa de alguém para atuar? "Eu vou". Precisa de alguém para patinar? "Ora essa", muito embora não soubesse fazer. Funny é ousada demais para não tentar. A sua ousadia a leva para mais longe do que pudera imaginar, embora o imaginasse com frequência. O filme foca em não perder de vista o quão espontânea a Srta Brice costuma ser, dentro e fora dos palcos, ofertando-nos sacadas que duvidaríamos até no século XXI.

Fanny Brice is Funny Girl

    O filme é audacioso por colocar uma personagem tão fora dos padrões (seja fisicamente ou mentalmente) e mais audacioso ainda por focar os refletores no brilho natural de Streisand.
    A intensidade de Fanny é nos ofertada em diversos momentos, seja quando ela dá tudo de si nos palcos ou quando foge dele (por amor), por amor e por amar Fanny se joga em tudo o que faz. Ao encontrar Nick vemos sua outra faceta, a mulher que quer amor, mas não se engane que esse fato não transforma o filme em uma RomCom, como era de se esperar e como tem escrito em sua descrição, mas serve para o crescimento da garota genial.

work hard and have fun

    Embora, logo no início do filme, ela ache que as coisas foram muito fáceis para ela chegar onde chegou, não foram, fica implícito os anos de trabalho duro (como na cena que ela fala que conheceu centenas de caras, mas que sua vida era os palcos), os anos de sucessivos não's, e por que não de "piedade e um tapinha nas costas"?
    Fanny, assim como eu e uma legião de garotas no pretty like a miss Atlantic City, trabalhou dobrado a vida toda, porque é muito mais fácil ser desacreditada, ser ridicularizada por querer algo que esteja reservado somente para pessoas "predestinadas". Trabalhar dobrado significa muitas vezes desistir de outros aspectos da vida, se focar em apenas um e então achar que ele chegou muito fácil - achar que não merece. Isso é normal Fanny Brice, eu também me sinto assim quando consigo o que quero.

Nick e Fanny numa quase comédia de amor

    Nick vira a cabeça de Fanny de cabeça para baixo, mas qual primeiro amor avassalador não vira?, ela não faz cerimônias e em não deixa que chovam em seu desfile, aquele é o seu momento. Podemos ter a equivocada ideia que a partir daquele momento o filme se foca no amor de ambos e na obsessão da agora senhora Arnstein. Equívoco. Precisamos dos outros âmbitos de Fanny para entendermos o porquê daquela mulher ser imbatível a cada apresentação, precisamos entender como uma mulher que inicia cantando e rindo, termina cantando e chorando. Vemos-a crescer infinitamente, abrir mão de algo que meses antes não viveria sem. Errando e acertando mas, como diria o próprio Nick, ela nunca perde mesmo. E não perder nunca muitas vezes significa sofrer.
    A metamorfose da Fanny Brice envolve se tornar a grande estrela Funny girl, transformar-se na "Sadie" Fanny Arnstein e voltar ao que nunca deixara de ser: Fanny Brice. A frágil menina que em tantos momentos só quer ser bonita, que se reafirma ao fazer os outros rirem pois assim eles "riram comigo e não de mim", a que faz troça consigo mesmo e com suas pernas finas, a que tem a resposta pronta - quase sempre, a que chora sozinha ou na frente de uma plateia lotada, a que nunca perde.

nem sempre o amor basta....

    O que vemos é muito mais do que a funny girl, brilhando em canto, dança, atuação e em pessoa vemos a garota genial.

Obrigada Barbra