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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Seinfeld e o abismo entre o piloto e o restante dos episódios.

amo tanto essa série que não dá nem pra explicar

    Todos que me conhecem sabem: Primeiro Seinfeld, depois encontros. Não desmarcaria uma sessão de zerar temporada por cara nenhum - por mais fofo que ele fosse. Seinfeld é, para mim, uma relação que dura seis anos, já. Como tal, a série me conhece e eu idem. Desde que assisti pela primeira vez, senti-me extremamente sensibilizada com a falta de mimimi desse seriado. São nove temporadas, mais de cem episódios, mas mesmo tendo zerado a série  eu nunca tinha assistido o episódio piloto (famoso primeiro episódio pra ver se a série vai vingar ou murchar, nas graças do público) e devo resumir em uma palavra: DECEPÇÃO.
     O primeiro episódio de Seinfeld apresenta discrepâncias com o restante da série (sem entrar em tecnicidades, porque não sou formada em cinema e etc, como - por exemplo - a super forte iluminação):

- O tempo de Stand Up é demasiado longo, visto que a série era sobre a vida de um comediante, mas as cenas nos shows de comédia eram meio forçadas - da parte do público principalmente.

- A lanchonete que frequentam não é o Monk's Cafe, primeira coisa que pensam sempre quando querem tomar café-da-manhã (ovos com bacon) ou conversar sobre os relacionamentos (de forma frívola, onde se irritam com pequenos detalhes das pessoas e acabam mandando eles pastarem, logo nas primeiras semanas - sem apego e sem sofrência). O lugar onde estão, no piloto, parece uma lanchonete caipira bem vagabunda, daquelas que servem frango frito, sempre engordurado, e se infesta de caipiras e não de nova-iorquinos, que eles são. O que realmente salva é a garçonete irônica e seca, mas como tudo tem dois lados, ela também parece uma solteirona desiludida que trata os clientes de forma desagradável para não pensar em sua vidinha miserável. Vai saber, né? Afinal ela não aparece mais na série.
tchurma reunida, no melhor lugar, conversando sobre nada

- Elaine não existia ainda na série. Li um artigo, outro dia, sobre o fato de Elaine ter entrado para a série para a mesma não parecer sexista. De fato o propósito foi concluído. Claire, a garçonete fria, seria uma personagem recorrente - o que não rolou (thanks ghost), afinal de contas, ela roubaria a cena. Acontece que sem Elaine, a série perderia graça para mim. Ela me representa, como sexo feminino, completamente - como em nenhum outro seriado personagem faz. Ela é, em síntese, a cola que une os três guys como personagens aceitáveis - mas sem deixar de ser uma personagem densa, Sem ela, Kramer Cosmo, George Costanza e Jerry Seinfeld seriam mais um remake fracassado de os três patetas.
personagem feminina mais inspiração do world 

Kramer, no primeiro episódio, tem um cachorro (o que ao meu ver cagaria a série, que passaria de uma série MOTHERFUCKER sobre nada para três amigos e um cachorro) e não tem acentuados os trejeitos loucos e ridículos que nos conquistaram. Sua barba rala o assemelha a um mendigo e não a um dreamer. Também senti falta daquelas roupinhas alguns números menores e estampas étnicas.
uma mistura de horror e amor que deu muito certo

- George (nosso querido loser Costanza) parece muito seguro, na verdade, sua personalidade no piloto se assemelha muito mais à de Jerry no decorrer da série - e suas piadas funcionam bem mais. Sem contar o fato que ele parece muito esperto, o que fica claro na série é que ele é um tremendo idiota, aquele tipo que New York comeria vivo (ressaltado no fim da oitava temporada, com todas as letras). E os famosos sinais que o Costanza capta no restante dos episódios, aqui parecem bem mais maduros e até sinais reais de que Jerry possa levar um fora. Ah, eu senti falta daquele jeito cafona dele se vestir, com roupas sociais bem maiores que seu tamanho - o deixando mais rechonchudo - e a careca sempre à mostra.
patético, cativante e idiota!

- Jerry parece um completo bocó não que ele não seja, porque ele é, mas de um jeitinho bom. Em cima de um palco, durante a apresentação, ele é ok: Sarcástico e óbvio (como ele mesmo define seu humor no segundo episódio da nona temporada), tratando relacionamentos com uma frieza digna dos personagens de Clark Gable sem aquela marra e densidade claro. Fora deles, Jerry é inseguro e passa o episódio todo falando da tal garota e embarcando na furada que é conversar com George sobre relacionamentos, mais furada ainda: Dar ouvidos. Sem falar nas calças vermelhas que ele usa em sua casa, durante à noite - só o que salva esse look desastroso é o tênis nike branco, que é sua marca registrada. Jer, parece dar aos relacionamentos o significado emocional que não é característico do seu personagem (e um significado extremamente rápido, até porque ele tinha conhecido a menina recentemente).


engraçado, fã de superman, bobo - além de lindo - Jerome é o melhor partido das séries da NBC

        O episódio piloto destoa, pois fere o lema da série mais poderosa do mundo (esta que voz narro): No hugging/No learning (em português Br: Sem abraços/sem aprendizado). A máxima não representa com literalidade, mas mais quer dizer que não haverá demonstração de afeto abraço em grupo like FRIENDS ou mimimi de qualquer espécie (no hugging) e, no fim do episódio, nenhuma lição de moral será apresentada (no learning), os personagens serão os mesmos porque assim somos: Os mesmos. Quando termina o dia, não acumulamos felicidades ou ensinamentos, mas, sim, iremos ao Monk's (ou algum equivalente) e lastimaremos as bobagens diárias que cometemos, ansiando logo o amanhã - para que possamos cometer novos erros.

sem abraços, sem aprendizados e sem mimimi - mas com muito amor

Ps: Primeiro post de 2016 é sobre a melhor das melhores e marquei como com estatueta porque a série tem um monte de Emmy's, que é equivalente.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

beginners e o intrincamento do amor

(Aviso: Há sites com sinopses, artigos sobre o filme e etc. Mas essa resenha, como todas as outras que eu escrevo/publico, é sobre o que mais me chamou atenção.)




    Em Beginners (filme de Mike Mills, de 2010, e com título no brasil ~sábio e bobo ao mesmo tempo~ de Toda Forma De Amor,) enlaçam-se algumas histórias de amor (sejam elas do tipo eros, ágape ou philos):

Oliver e Hal: A proximidade de Hal e Oliver se torna mais intrínseca quando a mãe deste morre e Hal (o pai e, agora, viúvo) assume sua homossexualidade e um câncer.
pai e filho no melhor lugar para se estar

Hal e Andy: Andy é o namorado, mais novo, de Hal. Enquanto este encara o relacionamento da forma mais monogâmica possível, Andy é de uma liberdade sem fim - o que não significa que não o ame.
e quem disse que amor olha pra detalhes?

Anna e Seu Pai: Pouco sabemos do pai de Anna, excetuando-se que quando ele se deprime e pensa em suicídio é para ela que ele apela, o que a deixa transtornada e justifica sua constante mudança de um lado para outro.
a conflituosa relação com pai se reflete em sua personalidade

Hal e Arthur: Artur era o cachorro - cativante ao extremo e falante (vê se pode!) - de Hal, que ficou como uma herança para Oliver, uma herança que muitas vezes parece entender mais os humanos que eles mesmos.
#BonsCompanheiros

Oliver e Arthur: Com a morte do pai, a relação de Arthur com Oliver se estreita, agora os velhos conhecidos terão de se transformar companheiros e ajudar-se mutuamente.
"Sério que eu herdei um cachorro? Nada de Porsche?"

Oliver e Andy: Com a morte do pai e namorado, respectivamente, nada mais prendia Oliver a Andy - isso é o que Oliver pensava pois o elo existia para Andy, que em um momento decisivo do filme revela ao ex-enteado.
*NÃO ENCONTREI FOTO DELES, GENT, SORRY*

Anna e Arthur: Tem algo de mágico mesmo nesse pequeno de estimação, afinal de contas todos se encantam por sua personalidade. Anna divide com ele o afeto de Oliver e acaba se envolvendo ao bichinho também <3
Olha esses dois, não sei qual quero apertar mais *-*

    Em Beginners o amor e as histórias se entrelaçam e uma vida tocada não é mais a mesma, assim como na real life.

ps: Christopher Plummer, que fez magnificamente Hal, ganhou o Oscar melhor ator coadjuvante por sua atuação na película. Não é pra qualquer um, mores.

(não falei de Anna e Oliver, perceberam? História para outro post)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

As fantásticas mulheres de ...E o vento levou

    Pensei e repensei na primeira resenha, de fato e de direito. Tendo, enfim, terminado o longa e põe longa nisso ...E o vento levou, pensei: Por que não? Mas não se engane, não falarei da guerra ou da intencionalidade comercial do filme, nem de Clark Gable que homem! e muito menos farei uma sinopse detalhada - com bônus track de curiosidades. Hoje vou falar de um aspecto que me chamou bastante atenção na película de 1940, adaptada de um romance homônimo: As mulheres, ou melhor, a força das mulheres, de mulheres bem diferentes entre si. E que mulheres!

#amigasErivais

Scarlett O'Hara: Logo de início, deparo-me com uma mocinha - em pleno século XIX - sentada conversando com gêmeos, como se fosse algo muito comum naquela época, não só conversando como manipulando, iludindo e etc. No encontro com o pai, vemos o quão voluntariosa é a miss O'Hara, uma personalidade forte - embora tão nova. O pai, obviamente, a coloca num pedestal pois ela era uma dama, com todas as letras, e como tal prezava sua honra sulista acima de tudo. Honra é o que a rege durante todo o filme, embora surja a constante dúvida se essa honra só existe por hipocrisia (que é assunto para outro texto). Embora case três vezes, muito pouco demonstra sentimentos românticos genuínos - excetuando-se por Ashley e pelo Rhett (apenas no fim do filme). Muito pouco também demonstra arrependimento, apenas um remorso - como diria o próprio terceiro marido - de um prisioneiro que não quer ir à prisão. Altamente proativa, quando posta em situações de conflitos jura que vai se reerguer e se reergue ~cena do punhado de terra e a promessa que nunca mais passará fome~ e ninguém ousa duvidar da capacidade da Senhora Hamilton ou Senhora Kennedy ou, por fim, Senhora Butler. Embora um poço de orgulho, muitas vezes entrelaçado com arrogância, quando Scarlett fraqueja é nos homens ao redor que se apoia - casando-se para salvar suas terras ou para se vingar de outro ou para consolidar mais sua fortuna, as vezes até mesmo só para inflar seu ego (vide festas que ela frequenta e rouba a cena). Miss O'Hara não se preocupa com os boatos, as fofocas, encara de frente - ou melhor - olhar por cima. Sua única fraqueza é o famoso nem tão famoso assim Gabriella então trate de explicar poder inferior, que consiste em se apoderar do poder de outro por meio de sua sensualidade/sexualidade e isso ela faz com frequência. Mas no geral, temos de convir, uma mulher que - em meados de 1860 - com todo a teia do patriarcado armada se impunha dessa forma e NUNCA NUNCA se curvava é, no mínimo, uma criatura memorável. E assim era Katie Scarlett O'Hara, alguém que acreditava que amanhã é outro dia. E é!

#QueenBitch (e com orgulho)

Melanie Hamilton: Uma das personagens mais gratificante que eu já tive o prazer de assistir e olha que eu já assisti filme pra caralho. Melly é que costumamos chamar de Amélia, uma moça bem comportada, quietinha, honrada, etc e etc. Mas com uma ressalva: Tudo que a futura senhora Wilkes faz é por vontade. Ela não é boazinha porque esperam isso dela, ela é porque é. A personalidade de Melanie não é forte, não como costumamos associar a fortaleza ~O'Hara feelings~, é compassiva, doce, misericordiosa e justa. Melanie chega a parolar com uma meretriz, no meio da rua, quando Scarlett torce o nariz para mesma e outra senhora lê se velha caquética e cheia de preconceitos bobos recusa o dinheiro necessário para ajudar no hospital para os feridos de guerra - e em outra ocasião demonstra gratidão, o que emociona a rameira. Melly demonstra coragem, sem perder a sua postura frágil, ela não julga e por isso não tem medo de ser julgada. (mas não pensem que ela é uma bobinha, rasa, a personagem é tão densa quanto qualquer vilã)

99% anjo mas aquele 1% é divinal

Mas chega de lenga-lenga, o prêmio de toda-foderosa vai pra Mammy: Ela não precisa de sua aprovação, mas se ela se afeiçoar, vai cuidar de você além das forças.

Scarlett é protegida de Mammy mas nem por isso não recebe puxões de orelhas da cuidadora

Você pode estar pensando "Okay, que que tem de fantástico na vida dessas mulheres?" , aparentemente nada, mas vamos olhar os detalhes mais de perto:
- A história foi escrita em 1936, por uma mulher
- O roteiro foi adaptado em 1939, por um estúdio predominantemente masculino (MGM)
- A história se passa nas colônias do sul, sinônimo de atraso quando comparado aos ianques nortistas morderninhos, durante o século XIX
São sim mulheres fantásticas, não só as desbravadoras narradas, como as atrizes e - principalmente - a mente criadora por trás de tanto sucesso Margareth Mitchell:

"aqui, de boas, lendo meu best-seller"

ps: O objetivo inicial do texto é falar das protagonistas Scarlett e Melanie, mas não pude deixar de ressaltar as demais.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Cinefilia Aplicada:

Before Sunrise, filme para ver com olhos, ouvidos e coração

    Sempre pensei no cinema como uma forma de escapismo ~escapismo bom, of course~, além de uma maneira de refletir e sermos refletidos - afinal quem nunca pensou que a vida imita a arte e vice-versa? O fato é que todos nos sentimos sozinhos, sometimes, nesses momentos é que eu apelo para a sétima arte.
    O que o cinema tem de tão magistral que reúne todas as outras artes (numeradas por Ricciotto Canudo em o Manifesto das Sete Artes)?
1ª Arte: Música
    Trilhas sonoras são tão importante no cinema que viraram até prêmios técnicos na estatueta mais famosa do mundo ~and Oscar goes to...~ : Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som, Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original. E quem nunca se pegou assistindo um filme e ficou mais encantado com a trilha sonora que com o próprio roteiro ou, simplesmente, saiu da sessão cantarolando a música tema? (meu caso de amor é com de Detroit Rock City, que vai de AC/DC à Bowie sem dar tempo de hesitar).
2ª Arte: Artes Cênicas:
    Eu me recuso a explicar aonde se insere o teatro, a dança e a coreografia no cinema ~basicamente só em tudo~ , muitas vezes os filmes aparentemente se adornam somente de atuações mas não se enganem, mesmo nos filmes sem enredos (onde só escutamos onomatopéias: pow, bang bang,boom) tudo é coreografado, como uma dança violenta - aonde escutamos tiros e rasgos que são passos cronometrados e ensaiados. Mas tem filmes que arrasam, né? Que não só os movimentos seguem um roteiros físico, eles deixam claro que não estão pra brincadeira e quem está na chuva é pra dançar (um exemplo clássico é o Singin' in the Rain, com o grandioso Gene Kelly e seu memorável sapateado enquanto cantava a música tema do filme.  Pra poucos, né, mores?)
3ª Arte: Pintura:
    A pintura se relaciona com a cor e cor esteve presente no cinema desde suas origens. Os primeiros processos consistiam em colorir à mão - um a um, os fotogramas no positivo preto e brancoOs filmes realizados desta forma são chamados de "colorizados", em contraposção aos"coloridos", onde as cores são captadas pelo processo fotográfico. Com o tempo e a tecnologia, os filmes foram ganhando essa coloração natural - ou não - que nos convence que aquilo pode acontecer, que é gente como a gente ~ou filmes como a gente~ . Embora meus diretores preferidos ainda tenham uma queda por P&B, ta aí Godard e Woody Allen que não me deixam mentir.
4ª Arquitetura:
    De uma forma basiquíssima a arquitetura é utilizada para produzir os grandes cenários - que muitas vezes tombam o próprio enredo, destaque para Hobbiton - a cidade cenográfica dos Hobbits <3
5ª Arte: Escultura:
    Uma arte um pouco mais difícil de ser encaixada, mas que - rencentemente nem tão recente assim - vem ganhando mais espaço dentro do cinema, porque as esculturas são usadas para o processo de criação de filmes, em especial animações. Com uma pequena enorme ajudinha da tecnologia, as queridas esculturas são base para criar alguns clássicos modernos. Vai me dizer que "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" não o é.
6ª Arte: Literatura:
    Como uma leitora compulsiva e incurável, essa é minha arte preferida (seguida por cinema e música, empatadinhos) e não é como negar o grande peso que tem em um filme. O roteiro, seja original ou adaptado, é basicamente um livro com uma história mesclado à um livro explicativo. O que não é pouco não, hein,
7ª Arte: Cinema:
    Uma complexa junção de todas as artes anterior, com um realismo incrível - que mesmo que irreal possa passar verdade - e pronto para seu usofruto, pelo tempo que for necessário.

    Se nem assim eu consegui convencer da completude que é essa arte, experimente assistir os filmes que resenharei, se nenhum deles lhe pegar pela gola da camisa e o deixar prostrado aos pés das telonas, acredite, nada mais vai.